Nesta Quarta-feira de Cinzas (26/2), a Igreja no Brasil lança oficialmente a Campanha da Fraternidade 2020, com o tema “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” e o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34). A edição deste ano nos convida a refletir sobre o sentido da vida como dom e compromisso, que se traduz em relação de cuidado entre as pessoas, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta. A história do bom samaritano, que é apresentado por Jesus no Evangelho de São Lucas, surge para nos ajudar a repensar sobre como, de fato, agimos diante de um irmão ferido à beira do caminho.
Na entrevista a seguir, o padre Joseumar Miranda da Silva, pároco de São Domingos do Norte e que está ajudando a difundir o sentido desta edição da Campanha da Fraternidade na região, explica como a iniciativa pode ser convertida em ações.

Padre Miranda participou de um estudo sobre a Campanha da Fraternidade 2020 na sede da CNBB, em Brasília
Qual é o papel da Campanha da Fraternidade na vida da Igreja e da sociedade?
Pe. Miranda: A Campanha da Fraternidade (CF) é uma forma que a Igreja Católica no Brasil encontrou de vivenciar a Quaresma. Há cinco décadas, a Campanha, que é coordenada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), propõe temas que apontam para a necessidade de compromisso do cristão. Também propõe discussões e enfrentamento dos problemas que afetam a vida, como precariedade da saúde, do trabalho, educação, moradia, políticas públicas, entre outros que já foram trabalhados.
Neste ano, por meio do tema “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” e do lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34), somos convidados a refletir sobre a imagem do bom samaritano. O que isso significa?
Pe. Miranda: O bom samaritano, que é apresentado por Jesus no Evangelho de São Lucas, aproxima-se da vítima dos salteadores e, movido pela compaixão, gasta seu tempo e dinheiro, ficando com ele na hospedaria. Paga todas as despesas e promete retribuir ao dono da hospedaria tudo o que gastasse para cuidar do homem ferido. No horizonte da conversão pessoal, nos é feito um convite à seguinte reflexão: O que me faz parar? O que me tem feito parar? O que é capaz de interromper a minha rotina? O que desperta o meu coração, a minha vida para cuidar daquilo que está à beira do caminho?
Qual é o objetivo da Igreja Católica ao lançar este tema para a Campanha da Fraternidade 2020? Quais são as discussões e reflexões esperadas por parte dos fiéis?
Pe. Miranda: Com o objetivo geral da Campanha da Fraternidade 2020, a Igreja Católica no Brasil espera conscientizar os fiéis, à luz da Palavra de Deus, para o sentido da vida como dom e compromisso, que se traduz em relação de mútuo cuidado entre as pessoas, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, nossa Casa Comum. Para ajudar os fiéis a vivenciar essa quaresma, à luz da parábola do bom samaritano, esta edição da campanha nos oferece dez objetivos específicos para discutir, refletir e agir:
– Apresentar o sentido de vida proposto por Jesus nos Evangelhos.
– Propor a compaixão, a ternura e o cuidado como exigências fundamentais da vida para relações sociais mais humanas.
– Fortalecer a cultura do encontro, da fraternidade e a revolução do cuidado como caminhos de superação da indiferença e da violência.
– Promover e defender a vida, desde a fecundação até o seu fim natural, rumo à plenitude.
– Despertar as famílias para a beleza do amor que gera continuamente vida nova.
– Preparar os cristãos e as comunidades para anunciar, com o testemunho e as ações de mútuo cuidado, a vida plena do Reino de Deus.
– Criar espaços nas comunidades para que, pelo Batismo, pela Crisma e pela Eucaristia, todos percebam, na fraternidade, a vida como dom e compromisso.
– Despertar os jovens para o dom e a beleza da vida, motivando-lhes o engajamento em ações de cuidado mútuo, especialmente de outros jovens em situação de sofrimento e desesperança.
– Valorizar, divulgar e fortalecer as inúmeras iniciativas já existentes em favor da vida.
– Cuidar do planeta, nossa Casa Comum, comprometendo-se com a ecologia integral.
Como esta campanha pode ser convertida em ações práticas?
Pe. Miranda: Quem teve a capacidade de ser presença samaritana na realidade brasileira foi Santa Dulce dos Pobres. Santa Dulce foi marcante no atendimento às necessidades urgentes dos mais pobres e sua obra de assistência à saúde é referência no Brasil inteiro. Ela é um grande símbolo para todos nós de como nós devemos ajudar: colocando-se no lugar do outro e enxergando suas necessidades. O próximo não é apenas alguém com quem possuímos vínculos, mas todo aquele de quem nos aproximamos. Sentir compaixão é a chave para fazer a vontade de Deus, que ama toda a criação. As ações da Campanha da Fraternidade nas comunidades partem de uma reflexão: De quem nós estamos cuidando? De quem nós estamos cuidando enquanto comunidade? Às vezes, cuidamos de reuniões, de quermesses, de festas do padroeiro, mas não cuidamos das pessoas que prestam serviço nas comunidades, muito menos de quem está chegando ou não está presente ali. Em uma perspectiva de Igreja em saída, a comunidade eclesial missionária é convidada a estimar ações de instituições que cuidam da valorização da vida, estabelecer parcerias e fomentar o cuidado com a vida.
Quais são as orientações da Igreja para os seus fiéis, em relação à campanha?
Pe. Miranda: Para uma eficaz conversão pessoal e pastoral, a Igreja nos incentiva a conjugar cinco verbos essenciais com relação à Campanha da Fraternidade 2020: Primeirear, Envolver, Acompanhar, Frutificar e Festejar.
Primeirear: Ter iniciativa. São indicadas ações como: ser presença de vida onde não há uma comunidade eclesial missionária.
Envolver: Formar cristãos para a convivência a partir do resgate de valores humanos e promoção de rodas de conversa sobre a realidade local.
Acompanhar: São sugeridos processos fundamentados no Evangelho, como iniciativas na perspectiva da iniciação à vida cristã.
Frutificar: Individualmente, fazer um exame de consciência tendo em vista o pecado da omissão. A comunidade é chamada a se tornar uma casa de acolhida, amizade e cuidado, com o desafio de chegar ao Domingo da Páscoa do Senhor com novas comunidades formadas.
Festejar: Não descuidar dos momentos de confraternização na ação evangelizadora, como aniversários, nascimentos e conquistas. Todos são chamados a promover iniciativas que favoreçam a amizade entre as pessoas, como passeios, mutirões, ações caritativas e ecológicas.