Ainda sob o impacto do Fórum Econômico realizado no início do ano, somos levados a uma reflexão à Luz da Palavra de Deus que nos questiona em pelo menos dois pontos, entre as dez tendências apontadas.
O Fórum é uma organização internacional independente cujo objetivo é melhorar a situação do mundo, mobilizando líderes empresariais, políticos e a sociedade. O Fórum é reconhecido por sua conferência anual em Davos, Suíça, onde membros e líderes mundiais discutem vários desafios globais, a serem enfrentados durante o ano. Os membros do Fórum acreditam que o progresso econômico e o desenvolvimento social andam lado a lado.
Às vésperas do evento, o papa Francisco enviou uma forte mensagem aos participantes, pedindo mecanismos e processos rápidos para uma melhor distribuição de riquezas.
Os dois maiores incômodos entre as tendências apresentadas no processo de crescimento econômico global foram: o desemprego, que cresce de forma galopante no mundo, de maneira estrutural e o aumento dramático das desigualdades sociais.
Um processo persistente, injusto e desumano, que atinge diretamente a obra-prima da criação. O dado mais chocante e anti-evangélico foi a revelação de que as 85 pessoas mais ricas do planeta detêm uma riqueza equivalente à renda da metade mais pobre de toda a população mundial. ¨É assombroso que, em pleno século XXI, uma pequena elite que poderia caber em um único vagão de trem possua tanta riqueza como a metade da população mais pobre do planeta¨, disse a presidente executiva da Oxfam, Winnie Byanyima.Essa tendência injusta de concentração de renda e exclusão deve ser analisada e minorada ao longo do ano.
Na ótica cristã, uma fé autêntica comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, partilhar solidariedade e derrotar a globalização da indiferença.
Este desejo de construir um mundo mais justo, em que se respeite mais o homem criado por Deus à sua imagem e semelhança, é parte fundamental da fome e sede de justiça que deve palpitar no coração cristão e de todas as pessoas de boa vontade.
A necessidade de gerar convicções nos leva, de imediato, ao campo da política. O papa insiste na obrigação de reestruturar a atividade política, entendida como uma das formas superiores de caridade. O papa Francisco enfatiza na exortação apostólica, ¨ A Alegria do Evangelho¨, que ¨a dignidade de cada pessoa humana e o bem comum são questões que deveriam estruturar toda a política econômica, mas às vezes parecem somente apêndices sem perspectivas e sem programas de verdadeiro desenvolvimento integral¨.
Há um crescente consenso no fato que, a menos que seja revertida, a crônica perda de empregos e a ampliação das disparidades sócio-econômicas, veremos uma escalada global na agitação social. A desigualdade continua sendo um sério problema mundial. Neste quesito, o Brasil infelizmente figura entre os destaques, apesar dos esforços recentes de políticas governamentais de inclusão. Não há dúvidas de que o crescimento da desigualdade é assunto de importância central.
Nos trabalhos de Davos houve um consenso sobre a necessidade de mudanças para revertermos essa situação desumana.
Que o Senhor nos conceda mais líderes no mundo que realmente se importem com a sociedade, que levem em consideração a dignidade de cada ser humano e o bem comum.
Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias Bispo Auxiliar de Vitória/ES Administrador Apostólico de Colatina/ES