Colatina (ES) – Entre os dias 17 e 19 de setembro, o Centro de Estudos da Diocese de Colatina promoveu a Semana Teológica, com o tema “Peregrinos da Esperança na Alegria do Evangelho”. O evento, realizado no auditório Bento XVI, localizado no edifício João Paulo II, proporcionou um espaço de reflexão sobre a caminhada da Igreja, destacando a sinodalidade ao longo da história e sua relevância no contexto atual.
No dia de encerramento (19/09), Padre Paulo Barbosa conduziu a oração inicial, marcando o momento com a leitura do Evangelho de São Lucas, que relatou o encontro de Jesus com uma pecadora arrependida. Em sua reflexão, destacou a importância do perdão e do amor, enfatizando a salvação integral oferecida por Cristo.
Após a oração, Padre Paulo acolheu os participantes, entre eles padres, irmãs e leigos da comunidade, e deu as boas-vindas ao Bispo Diocesano Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, que ministrou a palestra do dia. Dom Lauro, que possui uma sólida formação teológica, abordou o pontificado do Papa Francisco e seu impacto na Igreja contemporânea, lembrando a responsabilidade e o compromisso do episcopado com o povo de Deus. Ele também refletiu sobre o tema da sinodalidade, que permeia a vida e a missão da Igreja sob a liderança do Papa Francisco.
Dom Lauro concluiu sua fala com uma mensagem de esperança e alegria, ressaltando o chamado a uma fé viva e missionária, comprometida com a construção de uma Igreja sinodal e em constante diálogo com o mundo.
Acompanhe abaixo na íntegra alguns trechos da palestra!
“Boa noite, muito obrigado pela acolhida. A primeira palavra que eu trago para vocês é uma palavra de saudação e alegria. Estou feliz de estar aqui com padres, religiosos, leigos e leigas que têm o desejo crescente de se tornarem ‘sujeitos eclesiais ativos’, vivos e missionários. A Igreja está viva!”
Refletindo sobre o Evangelho proclamado, Dom Lauro trouxe à tona a questão da salvação e da fé: “No Evangelho de hoje, ouvimos Jesus dizer à mulher: ‘Tua fé te salvou, vai em paz’. Salvação, aqui, é plenitude, integridade. Não é apenas uma salvação superficial, mas uma salvação completa, que transforma. A fé dessa mulher, que muitos desprezavam, foi o que a salvou. E essa paz que Jesus lhe concede não é uma paz qualquer, mas a plenitude de todos os bens. Isso é muito significativo para nós, que vivemos uma caminhada de fé.”
Dom Lauro também aproveitou a ocasião para compartilhar um trecho de Santo Agostinho, relacionando-o ao serviço episcopal: “Desde que este encargo, pelo qual tenho de dar contas, me foi confiado, sempre me perturba a preocupação com essa dignidade que se há de temer. Para vós, sou bispo, convosco sou cristão. Ser bispo traz riscos, mas ser cristão é a nossa consolação. Aí está o consolo: como cristão, sou redimido, salvo. Para vós, sou bispo; aí está o perigo.”
O bispo destacou ainda a importância do pontificado do Papa Francisco, que completará 12 anos em 2025: “Estamos próximos de completar 12 anos de pontificado do Papa Francisco. Vocês se lembram do contexto em que ele assumiu a liderança da Igreja? Era um momento de muitos escândalos e crises. Mas o Papa Francisco veio com uma mensagem clara: coragem e foco nos pobres. Desde o início, ele tem demonstrado uma coerência impressionante em seus gestos e atitudes, sempre em sintonia com o povo de Deus.”
Ele também relembrou o momento marcante em que o Papa, antes de abençoar o povo pela primeira vez, pediu a oração de todos: “Antes de abençoar o povo, ele se abaixou e pediu que o povo o abençoasse. Foi um gesto de grande humildade, e é exatamente essa humildade que tem caracterizado seu pontificado. A coerência entre suas palavras e suas ações é uma inspiração para todos nós, especialmente no caminho sinodal que estamos trilhando.”
Dom Lauro continuou sua palestra destacando a importância da sinodalidade e da comunhão na Igreja: “A sinodalidade não é apenas um conceito teórico. É a maneira de ser Igreja hoje, caminhando juntos, ouvindo uns aos outros, discernindo o que o Espírito Santo quer nos dizer. É isso que o Papa Francisco tem nos ensinado: a sinodalidade é o caminho da Igreja. Precisamos estar atentos a essa realidade e vivê-la com compromisso e amor.”
“No Concílio Vaticano II, essa visão de Igreja foi amplamente discutida e ressaltada. A Igreja não é composta apenas pelos clérigos, bispos, padres, religiosos, mas por todo o povo de Deus. Somos um corpo, e a cabeça desse corpo é Cristo. A sinodalidade vem para reforçar isso: caminhar juntos, partilhar, escutar uns aos outros e, sobretudo, ouvir o Espírito Santo”.
“A eclesiologia do Vaticano II nos leva a entender que o Espírito age em todos os membros da Igreja, e é por isso que a escuta sinodal é tão importante. Quando a Igreja escuta o Espírito Santo, seja no clero, seja no laicato, ela se abre para novos caminhos e novas formas de evangelizar. E evangelizar, meus irmãos, é a missão primordial de todo cristão”.
“A sinodalidade, portanto, nos desafia a viver uma comunhão verdadeira, onde todos têm voz e onde a missão de levar o Evangelho ao mundo é compartilhada por todos os batizados. Não é uma tarefa de poucos, mas uma missão coletiva, sustentada pela graça do Espírito Santo e vivida no amor fraterno.
Essa sinodalidade não é algo novo. Já está presente na vida da Igreja desde o início, como vimos nos Atos dos Apóstolos, e foi reafirmada ao longo dos séculos em concílios e sínodos. O que o Papa Francisco faz é resgatar essa tradição eclesial e colocá-la no centro da vida da Igreja hoje”.
“E é com essa mentalidade que seguimos, vivendo a comunhão, a participação e a missão. Que o Espírito Santo continue a guiar nossa Igreja para sermos, de fato, o povo do caminho, o povo de Deus que caminha junto em busca da plenitude do Reino”.
A SINODALIDADE NA IGREJA: REFLEXÕES DE DOM LAURO
Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa trouxe à tona a importância da sinodalidade na Igreja, ressaltando as experiências coletivas e a escuta atenta ao povo de Deus.
“Fizemos a síntese do Brasil e, em seguida, a síntese de toda a América Latina e do Caribe”, lembrou. O bispo destacou a relevância do processo sinodal, que, alinhado aos ensinamentos do Vaticano II, busca uma compreensão mais profunda da missão da Igreja no mundo contemporâneo.
Ele mencionou o trabalho do Padre Rodrigo Guido, que está desenvolvendo uma nova etapa do processo sinodal, e enfatizou que esta escuta deve ser fundamentada na Trindade, trazendo uma abordagem cristológica, antropológica e eclesiológica. “A Igreja é una, santa, católica e apostólica”, afirmou, lembrando que o modelo de sinodalidade se inspira na própria Santíssima Trindade.
Dom Lauro também abordou a necessidade de um diálogo horizontal e sincrônico entre os membros da Igreja. Ele compartilhou suas experiências de viagem pela Ásia, onde se percebeu como a Igreja é minoria em alguns lugares, mas, ainda assim, carrega a missão de comunicar a palavra de Deus. “A tradição não é algo fixo, mas dinâmico e vivo”, acrescentou, ressaltando que a verdadeira tradição deve trazer alegria e vida ao Evangelho.
Ao concluir, o bispo citou uma frase impactante que diz que “o caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja no terceiro milênio”. Essa afirmação deixou claro que a sinodalidade não é uma questão de preferência pessoal, mas uma exigência fundamental para a vivência do cristianismo.
“Precisamos gostar de Jesus Cristo e do Evangelho, e não apenas de nossas preferências pessoais”, enfatizou. Dom Lauro encerrou sua fala agradecendo a todos pela participação e pelos esforços durante o evento.
No primeiro dia, Padre Malvino Xavier da Silva abordou o tema “A Palavra de Deus: Realização da Esperança”. A proposta foi de oferecer uma dinâmica que inspire os participantes a caminhar e se encantar com a vida, por meio de um processo de conversão ao qual todos são chamados.
No segundo dia, a reflexão foi conduzida por Padre Irineu Claudino Sales, que abordou o tema “A Igreja em Saída como Comunicação da Esperança e Alegria do Evangelho”. A palestra trouxe a proposta de uma Igreja em saída, que retoma os ensinamentos do Concílio Vaticano II, buscando uma recepção criativa e atualizada dessas diretrizes.
Frei Augusto Luiz Gabriel