Colatina (ES) – No dia em que a Igreja celebra a memória de Santo Irineu, bispo e mártir (28/06), os presbíteros da Diocese de Colatina (ES) estiveram reunidos no Mosteiro Santíssima Trindade das Irmãs Clarissas, para vivenciar o Dia de Oração pela Santificação do Clero. Todos os anos, na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, celebra-se esta data, mas por razões pastorais, transferiu-se a celebração para este dia que começou com a Celebração Eucarística presidida por Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, bispo diocesano, às 8h. Pe. Renildo Andrade Marim, Assessor Diocesano de Liturgia e recém-ordenado e Padre Aldir Roque Los, da Diocese de São Mateus, concelebraram, juntamente com grande parte do clero.
Após a proclamação do Evangelho do dia (Mt 8,1-4), Dom Lauro iniciou sua homilia saudando todos os presentes. Citou um episódio da vida de São Francisco e de Santa Clara em que o Santo de Assis pergunta para Clara: ‘O que desejas?’, ‘O que queres?’ e ela responde: Deus! “Aqui estamos, subimos também o monte, e hoje a pergunta que se dirige a nós do presbitério de Colatina é a mesma: O que queremos? O que viemos fazer? E a resposta não pode ser outra a não ser: Deus. Desejamos a Deus!”, destacou o presidente da celebração.
Segundo Dom Lauro, neste Dia de Oração pela Santificação do Clero, Deus é o que nós queremos. Só Ele é santo. E essa é a única vocação que nós temos: a vocação para a santidade, como recorda o Concílio Vaticano II na Constituição Dogmática sobre a Igreja, no capítulo quinto, sobre a vocação universal.
“Não apenas os sacerdotes, consagrados e consagradas, mas todo o povo de Deus pode buscar a santidade. Cada um de acordo com o seu estado, mas todos chamados à santidade. Deus é santo e se relacionar com Deus significa caminhar em direção à santidade”, ensinou o bispo.
Ao refletir sobre o Evangelho, Dom Lauro explicou o diálogo de Jesus com o leproso que se ajoelha diante do Senhor e pede a cura. ‘Senhor, se queres, tens o poder de me curar’. Jesus responde: ‘Eu quero’. “Deus quer, Deus sempre quer que nós sejamos santos. Deus sempre quer liberdade. Ele quer que tenhamos vida. Todos nós também somos leprosos pelos pecados. Somos tentados por nossos instintos egoístas e nos aproximamos do Senhor suplicando pela cura”, frisou.
Dom Lauro recorreu ao Santo Tomás de Aquino para evidenciar a importância da santidade. Citando o doutor da Igreja disse que para ser santo basta querer. Sublinhou ainda que Santo Irineu, o último da era apostólica, discípulo de São Policarpo, que por sua vez foi discípulo de São João evangelista, foi o santo da comunhão. “Vivemos em nossa Igreja o tempo da sinodalidade e Irineu foi o santo da paz e da unidade diante de tantas controvérsias”, recordou. “Assim, a santidade não diz respeito somente a partir de nossa proximidade com Deus, mas de nossa teia de relações”, acrescentou.
“Como ministros servidores, irmanados, fraternos, somos convidados a fazer o que Jesus fez. Ele que não veio para ser servido, mas para servir. Quem quiser ser o maior seja servidor. Que nós busquemos a santidade, sempre em comunhão eclesial e atento aos sinais”, disse.
Neste sentido, Dom Lauro lembrou dos profetas dos tempos atuais. “Profetas que são muitas vezes invisíveis em nossas comunidades, como testemunhas vivas do Evangelho”, lembrou. “Quantas comunidades se reúnem em torno da Palavra de Deus, procuram viver de acordo com essa Palavra, celebram os sacramentos, vivem a caridade fraterna e estão envolvidos na missão, isso é importantíssimo”, acrescentou.
O celebrante mencionou ainda as tragédias climáticas recentes no Brasil e frisou a profecia evangélica contida nestes lugares. Lembro que a Encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco, que completará 10 anos em 2025, é uma grande profecia dos tempos atuais, que dialoga com a Teologia da Criação, com o magistério da Igreja e que propõe estratégias de ação, apresenta uma ecologia integral que requer santidade e renovação. “Nossa santificação não se faz fora disso. Ou estamos em comunhão na Igreja, com seus desafios, com os sofrimentos do povo, e somos profetas e dóceis à ação do Espírito Santo ou não tem santificação para nós, estaremos cuidando e apascentando a nós mesmos”, ensinou.
“O verdadeiro pastor é aquele que é dócil à Palavra do Senhor, atento aos sinais dos tempos e caminha de forma sinodal. Que o Senhor nos ajude a sermos resistentes ao seu projeto como povo de Israel foi”, disse. E concluiu citando um pensamento de Santo Irineu: “A glória de Deus quer a vida do ser humano e a vida do ser humano é a visão de Deus”.
POR QUE A ORAÇÃO PELA SANTIFICAÇÃO DO CLERO?
No segundo momento da manhã os presbíteros participaram da palestra ministrada pelo Padre Aldir Roque Los, da Diocese de São Mateus, que refletiu sobre a temática da Santificação do Clero. Ele iniciou sua fala discorrendo sobre um texto de Rubens Alves, intitulado “ter olhos de poeta”, e afirmou logo de início: “Precisaríamos ter uma vida de padre mais poética”.
Segundo Pe. Aldir, há um poema no Novo Testamento (Lc 24) que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus Ressuscitado, mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente ao partir do pão e seus olhos se abriram.
“E, então, por que um dia de oração pela santificação do Clero?”, perguntou o palestrante, indicando algumas palavras como resposta: gratidão, misericórdia, compaixão, vigilância, coragem e oração. Segundo ele, primeiramente gratidão a Deus pelo dom da vocação. “Também de compaixão, nutrindo um coração compassivo que se exprime e se faça próximo do sofrimento do outro e na capacidade de relações. Além disso, um coração vigilante que mesmo diante da obscuridade do tempo presente nos faça discernir a sua palavra. Por isso um dia de santificação pelo clero”, refletiu
Pe. Aldir indicou aos presbíteros a necessidade de um coração corajoso. “Contemplando o coração de Jesus, podemos contemplar o Sagrado Coração. Um sacerdote é aquele que habita no Senhor a quem consagrou a vida. Podendo viver uma frutuosa caridade pastoral. Deixar-se guiar no acompanhamento espiritual. Um ministro corajoso está sempre em saída. Alguns ficam preocupados com as transferências, mas nós devemos estar sempre disponíveis e dispostos a estarmos em saída”, sublinhou.
Como forma de agradecimento a Deus pela vocação ministerial, o presbítero convidou o clero a fazer memória dos lemas escolhidos para as ordenações, assim como as datas. Alguns já são jubilandos, outros possuem meses de ordenação.
Depois refletiu sobre os votos de obediência, celibato e vida de oração e também sobre os sacramentos, em especial, o da reconciliação, sendo esta uma experiência com a misericórdia de Deus.
Pe. Marinaldo Serafim, coordenador diocesano da Ação Evangelizadora avaliou o encontro como uma oportunidade de recordar experiências e encantos que fazem parte da trajetória de cada um. “Temos que cultivar e fazer sempre essa memória em nossas vidas”, frisou.
“Não podemos perder a memória. Isso que estamos fazendo nos aproxima ou nos afasta de Jesus Cristo? Do Concílio Vaticano II? Das conferências?”, perguntou Dom Lauro. “Hoje no Evangelho Jesus nos fala de tocar. Nós estamos tocando nas chagas e nos perigos da humanidade? Nós temos a Escritura, a Patrística, o Concílio Vaticano II, temos a experiência e a solidez dos santos, nós temos um arsenal para oferecer ao povo, e não apenas coisas superficiais. Nós temos condições de oferecer muito mais para superar o desânimo, a tristeza. Por vezes, estão faltando motivações mais profundas”, partilhou o bispo diocesano.
Por fim, o encontro terminou com a oração de uma dezena do terço e a confraternização em torno da mesa, uma extensão da mesa do altar.
Frei Augusto Luiz Gabriel, coordenador do Setor de Comunicação
VEJA MAIS IMAGENS






