O município de Baixo Guandu sediou o primeiro seminário da 6ª Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce, na última quinta-feira (4/5). Cerca de 80 pessoas compareceram ao evento que abriu a programação da romaria. As discussões partiram do tema “Bacia do Rio Doce, nossa casa comum” e do lema “No princípio, o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1,1-2).
Assista na íntegra:
DOM LAURO RELEMBRA TRAGÉDIA EM MARIANA
O primeiro a fazer uso da palavra foi o bispo diocesano de Colatina, dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, que refletiu inicialmente à luz da Palavra de Deus para mostrar que “nós temos uma tradição de respeito por toda a criação”. “Criados à imagem e semelhança de Deus, criados mulher e homem, a nós é confiado o cuidado de toda a criação”, disse.
Dom Lauro também falou sobre a maior tragédia socioambiental da história do Brasil, que foi o rompimento da barragem com rejeitos de minério em Mariana (MG), no dia 5 de novembro de 2015. “Não é só uma questão de memória, é uma questão de conscientização”, destacou. Para dom Lauro, o fato foi uma “tragédia anunciada”. “Toda a bacia do Rio Doce é atingida, pessoas morrem, perdem postos de trabalho, ficam doentes, perdem bens, são afetadas sua cultura e sua perspectiva de vida”, afirmou.
MAIS FALAS DE DOM LAURO
“A partir do momento em que nós abusamos da nossa liberdade, nós rompemos a nossa relação com Deus. Ao invés de sermos filhos que acolhemos o projeto de Deus e seu amor, nós nos tornamos rebeldes. E qual é a grande tentação? Ser como Deus. Ao invés de ver o outro como irmão, nós vemos o outro como concorrente.”
“O que nós queremos com a romaria? Recuperar a dimensão contemplativa do ser humano. Nós não somos simplesmente fazedores de coisas, porque, se nós somos dominados pela técnica e nesse processo de negação do outro, nós só podemos produzir morte e autodestruição.”
“Esse modelo de desenvolvimento, produção e consumo vai produzir esse tipo de tragédia, porque enquanto nós tivermos a mentalidade simplesmente consumista em que eu quero extrair na natureza tudo para o meu bem-estar, sem pensar na minha responsabilidade de cuidador da casa comum, eu só vou produzir tragédia e doença. Quando o lucro for o motor fundamental das iniciativas, então o ser humano e a natureza serão sempre agredidos.”
ATINGIDOS COBRAM ASSISTÊNCIA
O seminário também foi marcado pelos depoimentos de quatro pessoas que foram lesadas pela lama de rejeitos que atingiu o Rio Doce. Lucilene Angélica Soares, Welinton Pereira de Carvalho, Beatriz de Paula Bernardo e Solene Dalva de Jesus falaram dos dramas que enfrentaram depois da tragédia, as dificuldades e doenças, a falta de reconhecimento e de assistência das empresas responsáveis e pediram justiça e reparação pelas perdas sofridas.
RIO ASSASSINADO
A bióloga e doutora em agronomia Paulyene Vieira Nogueira, membro da Associação de Desenvolvimento Agrícola Interestadual (ADAI), fez uma exposição sobre a importância do rio e da água para as civilizações e destacou a tragédia ambiental ocorrida no Rio Doce. “O rio, naquele dia, estava sendo assassinado. Com lágrimas e perplexidade, assistíamos ao percurso da lama que foi destruindo tudo por onde passava”, sublinhou.
Paulyene lembrou ainda que foram despejados no rio mais de 60 milhões de metros cúbicos de lama com diversos elementos potencialmente tóxicos, matando 19 pessoas diretamente. “São muitos os efeitos e as consequências da contaminação do ambiente e há diversos estudos realizados nos últimos sete anos que corroboram com o entendimento de que se trata de um dos maiores desastres sociotecnológicos do mundo”.
CACIQUE: PREOCUPAÇÃO COM O FUTURO
O evento também contou com a participação de Jonas do Rosário, cacique da Aldeia Areal, do povo tupiniquim, de Aracruz. O cacique manifestou particular preocupação com o futuro de seu povo e de toda a sociedade por causa do acúmulo dos metais pesados no fundo do rio e do mar.
PRÓXIMOS EVENTOS
E a programação continua! A próxima cidade a sediar o seminário será Colatina, já na próxima quinta-feira (11/5). Será no Edifício João Paulo II, no centro. O terceiro seminário será em Linhares, no dia 25 de maio.
A 6ª Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce é uma realização da Diocese de Colatina e das dioceses mineiras banhadas pelo Rio Doce. Após os três seminários, a programação recomeça com a Semana Missionária, de 11 a 17 de junho. O ponto alto da romaria será em Regência, no dia 18 de junho.
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