NA ESCOLA PÚBLICA HABITA A SEMENTE DA ESPERANÇA
Anderson Mendes Batista dos Anjos
Educador, gestor educacional e coordenador diocesano da Pastoral da Educação
O Papa Francisco é um ícone de educador. Em seu ministério, o Santo Padre tem dado uma atenção especial à educação por meio de seus discursos e iniciativas. Em 2014, num encontro para estudantes e professores ocorrido em Roma, Francisco manifestou o seu amor pela escola: “amo a escola, porque ela é sinônimo de abertura à realidade, porque é um ponto de encontro e porque educa de verdade. A escola não é um estacionamento, é um local de encontro no caminho, e nós precisamos dessa cultura do encontro para nos conhecermos, nos amarmos e caminharmos juntos. Na escola aprendemos não só conhecimento, mas também hábitos e valores”.
Atualmente, a escola como espaço privilegiado para a formação de valores deve preocupar-se com a educação holística do ser humano, não atendo-se apenas ao ensino fragmentado das diversas áreas do conhecimento, mas propondo uma educação na sua completude, ou seja, que se preocupa com os desenhos curriculares entrelaçados com o desenvolvimento de hábitos e valores. De acordo com as Diretrizes Curriculares Gerais Nacionais para a Educação Básica, de 13 de julho de 2010, “educar exige cuidado; cuidar é educar, envolvendo acolher, ouvir, encorajar, apoiar, no sentido de desenvolver o aprendizado de pensar e agir, cuidar de si, do outro, da escola, da natureza, da água, do planeta. Educar é, enfim, enfrentar o desafio de lidar com gente, isto é, com criaturas tão imprevisíveis e diferentes quanto semelhantes, ao longo de uma existência inscrita na teia das relações humanas, neste mundo complexo”.
Assim, acreditamos que o papel da escola ultrapassa as estratégias previstas nos currículos. Ela é o local do encontro de vidas, convívio com a diversidade cultural e a pluralidade. Nela, o educador é o agente protagonista da prática da ação educativa. Ele não educa sozinho, mas em rede, ou seja, em parceria com a família, as demais estruturas e organizações, as diversas práticas educativas, o mundo da informação, dentre outros.
A escola pública cumpre uma importante função social: investir na formação de homens e mulheres livres, capazes de interferir, com autonomia e responsabilidade, na sociedade. Trata-se de um universo diverso, permeado por desafios e esperanças, terreno fértil para a ação da Pastoral da Educação. Nele, encontra-se a maioria da população escolar. Neste contexto, é fundamental que a Igreja proponha caminhos para adentrar no chão da escola pública, contribuindo assim para a melhoria da qualidade da educação ofertada em nosso imenso país.
A escola pública é um lugar de esperanças. Partindo dessa premissa, podemos elencar várias belezas existentes neste universo: a diversidade cultural, o trabalho desenvolvido pelos professores, com foco na melhoria da qualidade do ensino ofertado, o processo de formação continuada dos profissionais da educação e a sua inter-relação com as metodologias de ensino aplicadas em sala de aula, a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) no território brasileiro, a existência das escolas campesinas, a participação da comunidade escolar nos conselhos deliberativos e os processos de gestão democrática que garantem a envolvimento efetivo dos vários segmentos da comunidade escolar em todos os aspectos da organização da escola.
Por outro lado, são muitos os desafios da escola pública na contemporaneidade, a saber: a falta de valorização dos profissionais da educação, a violência na escola, a ausência das famílias no processo educativo sistematizado, a precariedade das estruturas físicas de algumas escolas, a estagnação das metas do Plano Nacional de Educação (PNE), os cortes de verbas na educação, em especial no Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), a luta pela manutenção da escola do campo, a revisão da proposta pedagógica do Ensino Médio e da Educação Profissional, entre outros.
Sabemos que, à luz das esperanças e desafios, a escola é o espaço do encontro dos educandos e suas famílias. Com relação às escolas do campo, elas proporcionam a proximidade entre as comunidades de origem de seus educandos com suas respectivas famílias, além de contribuir para o enraizamento cultural do campo. Favorece também o estímulo à gestão participativa da escola, uma vez que, na comunidade de origem, os educandos e seus pais têm meios para participar da gestão da escola, conforme orienta a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).
Percebemos claramente que, na perspectiva da construção da aldeia que educa por meio dos compromissos coletivos (família, escola e sociedade), a escola pública é o espaço privilegiado para a ação evangelizadora da Igreja que muito pode contribuir por meio da ação e da reflexão dos processos educativos, na oferta da educação pública comprometida com o diálogo e a paz, com a economia solidária e com a ecologia integral, pilares propostos pelo Papa Francisco no Pacto Educativo Global.