Aracruz (ES) – “A vida inteira de Jesus foi abraçada por Santa Teresinha, não apenas partes que atraem. A santidade não é seleção de trechos agradáveis, mas o comprometimento integral com o Evangelho.” Com essas palavras, Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, bispo de Colatina, deu início à homilia na missa solene da Festa de Santa Teresinha do Menino Jesus, padroeira da paróquia de Aracruz, celebrada no dia 1º de outubro de 2024.
A missa marcou o ápice das festividades em honra à santa carmelita, uma das mais veneradas da Igreja Católica e reconhecida como padroeira das missões. Em um ambiente de profunda espiritualidade, fiéis de diversas comunidades da região se reuniram para celebrar a vida e o legado de Santa Teresinha, também conhecida como Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face.
CONFIANÇA E PEQUENA VIA: O CAMINHO DE SANTA TERESINHA
Na homilia, Dom Lauro ressaltou a espiritualidade profunda de Santa Teresinha, cuja “Pequena Via” é um caminho de amor e confiança em Deus. “Ela descobriu que a vida cristã não é um romantismo simplório, mas uma entrega completa e confiante. Santa Teresinha, proclamada doutora da Igreja, nos ensina que a verdadeira missão começa no coração, na adesão total ao amor de Cristo”, afirmou o bispo. Ele relembrou que, apesar de Santa Teresinha nunca ter deixado o convento, tornou-se padroeira das missões justamente por compreender que a missão não é uma questão de espaço geográfico, mas de profundidade espiritual e amor.
A celebração também foi marcada por momentos de reflexão sobre o papel da alegria na vida cristã. Dom Lauro destacou a mensagem da primeira leitura, tirada do profeta Isaías: “Deus nos chama a uma alegria verdadeira, que nasce de um relacionamento amoroso com Ele. Não estamos na casa de Deus por obrigação, mas por amor. Amar e rezar são atos de liberdade, e é essa liberdade que nos aproxima do coração de Cristo.”
PRESENÇA E COMUNHÃO
O início da missa foi marcado por uma calorosa acolhida, tanto dos fiéis presentes quanto dos padroeiros das diversas comunidades que compõem a Paróquia Santa Teresinha. Dom Lauro expressou sua alegria em retornar àquela comunidade, recordando sua visita pastoral no ano anterior. “Guardo com carinho no meu coração de pastor as celebrações e os momentos que vivi aqui. Hoje, estamos novamente reunidos nesta festa da Padroeira, celebrando o amor de Cristo e a vida de Santa Teresinha.”
Durante a cerimônia, os santos padroeiros das comunidades foram simbolicamente acolhidos, em uma demonstração de unidade e comunhão. As comunidades dedicadas a Nossa Senhora das Graças, São Benedito, Nossa Senhora Aparecida, entre outros, estavam representadas, refletindo a riqueza espiritual e o zelo missionário da paróquia.
O TESTEMUNHO DE FÉ EM MEIO A DESAFIOS
Dom Lauro também aproveitou a ocasião para destacar a importância do testemunho cristão em contextos desafiadores. Ele fez referência a um casal de amigos missionários que vivem no Oriente Médio, ressaltando o desafio de viver a fé em locais onde a liberdade religiosa é restrita. “Aqui, celebramos em paz e com liberdade, mas há lugares onde ser cristão é um ato de coragem e, às vezes, de martírio. Santa Teresinha nos ensina que ser missionário é um chamado de amor, independentemente de onde estejamos.”
Dom Lauro, destacou que as “rosas” que Santa Teresinha nos oferece não são apenas pequenos presentes para nos manter em uma vida egoísta, centrada em nós mesmos. Muito pelo contrário, são um chamado para uma vida verdadeira, autêntica, como discípulos e missionários de Jesus Cristo. Santa Teresinha descobriu que sua vocação na Igreja era o amor, como ela própria afirmou: “Minha vocação na Igreja é o amor.”
ASPIRAR AS COISAS DO ALTO
Essa descoberta veio a partir de sua meditação na Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, especialmente nos capítulos 12 e 13. Santa Teresinha se inquietava, buscando qual seria o seu lugar na Igreja, vendo as diversas vocações descritas por Paulo — apóstolos, profetas, doutores — e desejando todas elas. Mas foi ao final do capítulo 12, quando São Paulo diz “aspirai aos dons superiores”, que ela encontrou sua resposta: o maior de todos os dons é o amor. E assim, Teresinha compreendeu que sua missão era ser o amor na Igreja, pois “se não tiver amor, os apóstolos não vão mais pregar, os mártires não vão doar a sua vida, os doutores não vão ensinar”, explicou,
Dom Lauro ressaltou que a Paróquia dedicada a Santa Teresinha é privilegiada por ter como padroeira alguém que nos ensina a nos fazer pequenos, como crianças, para entrar no Reino dos Céus. Foi isso que ela fez, abandonando-se completamente nas mãos de Deus. Teresinha desejava comparecer diante de Deus com as mãos vazias, não apresentando suas obras como méritos próprios, mas confiando inteiramente na misericórdia divina. Como Dom Lauro recordou: “Eu vou ser salvo, não é pelo bem que eu fiz, mas pela pura misericórdia de Deus. Deus que é amor.”
Mesmo diante das imperfeições humanas que encontrava no Carmelo, Santa Teresinha sempre respondeu com amor. Ela acolhia, sorria e suportava, mesmo quando algumas irmãs não agiam com caridade. A profundidade de sua entrega só foi plenamente revelada após sua morte, quando seus escritos foram descobertos e seu testemunho silencioso de amor e humildade foi reconhecido.
O grande segredo de Santa Teresinha, conforme destacou Dom Lauro, era o seu relacionamento com Jesus e o esvaziamento de si mesma, como ela vivia na confiança de que “Já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Ela acreditava que, mesmo nas dificuldades, Deus estaria sempre presente, reforçando que Jesus nunca prometeu uma vida sem sofrimento, mas garantiu que estaria conosco em todos os momentos: “Eis que estarei convosco todos os dias, até o final dos tempos” (Mt 28,20).
Dom Lauro alertou sobre a importância de não fugir da cruz, pois a cruz faz parte da vida de quem é fiel. Mas ele lembra: “A cruz sem Jesus é insuportável, mas a cruz com Jesus é salvação, para nós e para os outros.” A verdadeira vocação é seguir Jesus, abraçando a cruz com Ele, pois é nela que encontramos a salvação.
Santa Teresinha, que morreu aos 24 anos, resumiu sua vida em sua última declaração: “Não me arrependo de ter amado o amor”, testemunhando sua confiança plena em Deus até o final. Dom Lauro nos deixou o convite para que, ao final de nossas vidas, possamos, assim como Teresinha, nos lançar confiantemente nos braços do Pai. “Que possamos aprender com ela a viver a santidade de forma simples, mas profunda, confiando plenamente no amor de Deus”, concluiu.
A Festa em Honra a Santa Teresinha do Menino Jesus foi mais uma expressão da fé viva e da devoção da comunidade paroquial de Aracruz, que celebrou com alegria e devoção o legado de uma das santas mais amadas da Igreja.
Frei Augusto Luiz Gabriel