Colatina (ES) – No dia 28 de setembro de 2024, das 8h às 16h, a Diocese de Colatina reuniu conselheiros de pastoral, padres, e lideranças de movimentos e pastorais no Colégio Marista para um encontro sobre o “Planejamento Pastoral”. O evento foi marcado por profundas reflexões e debates sobre os “fundamentos e a metodologia pastoral”, especialmente em preparação para o Jubileu da Esperança, que será celebrado em 2025. O tema do Jubileu será “Peregrinos de Esperança”, convocado pelo Papa Francisco, e a Diocese se prepara para integrar esse momento ao seu planejamento pastoral com diversas atividades e iniciativas.
O evento começou com as palavras do Coordenador Diocesano de Pastoral, Padre Marinaldo Serafim, que trouxe uma reflexão sobre o agir pastoral inspirado no exemplo de Jesus. Ele enfatizou a importância de um planejamento bem fundamentado:
“A pastoral não se dá por mera intuição. O Papa Francisco nos lembra que a Igreja em saída é uma Igreja com as portas abertas, mas não significa correr pelo mundo sem direção. Devemos refletir sobre nosso agir pastoral, aprofundar nossos fundamentos, diminuir o ritmo e escutar mais. Como podemos gerar experiências de esperança que transformem nossos corações e ajudem no anúncio do Evangelho?”
A fala do Padre Marinaldo enfatizou a necessidade de um planejamento pastoral que vá além das urgências e ansiedades, focando em uma ação mais compassiva e eficaz.
Irmã Ivani, da Congregação das Irmãs da Caridade de Ottawa, reforçou a importância de acender a chama da esperança no coração de todos os presentes. Ela destacou o significado espiritual do Jubileu da Esperança: “O Jubileu é o ano da graça do Senhor. Não podemos deixar essa graça passar despercebida. Somos peregrinos de esperança, e temos a missão de acender essa chama em nossos corações e na vida daqueles que nos rodeiam. Este é um tempo especial para todos nós, um tempo de renovação e fortalecimento da nossa fé”.
PALESTRA COM PADRE ROBERTO MARCELINO
Padre Roberto Marcelino, representante dos presbíteros da Diocese, conduziu a primeira palestra do encontro, focando na Teologia Pastoral e seus fundamentos. Ele explicou que a Teologia Pastoral busca integrar a fé à vida prática, refletindo sobre a ação da Igreja no cuidado com o povo de Deus.
Ele começou definindo a Teologia Pastoral como uma disciplina que “visa refletir sobre a ação da Igreja no cuidado com o povo de Deus”. Segundo ele, é fundamental que o planejamento pastoral seja orientado pelos ensinamentos teológicos e eclesiais, mas também integrado à realidade concreta das comunidades.
“Planejar não é apenas uma questão técnica, é uma questão de fé”, afirmou. “Nós estamos aqui para refletir sobre como podemos viver o Evangelho de forma mais concreta e eficaz, principalmente neste tempo em que nos preparamos para o Jubileu da Esperança. O Papa Francisco nos convida a ser uma ‘Igreja em saída’, e isso exige de nós um compromisso com o planejamento pastoral, para que possamos realmente estar presentes nas periferias, não só geográficas, mas também existenciais”.
Padre Marcelino destacou também a importância de um planejamento orgânico e articulado: “Não se trata de inventar coisas novas, mas de harmonizar o que já fazemos, dar sentido e direção ao nosso trabalho pastoral. Como Jesus disse: ‘Avançar para águas mais profundas’. O planejamento é o nosso barco, e a fé é o vento que nos leva adiante”, ressaltou.
O MAGISTÉRIO DA IGREJA
Enfatizando a importância da coordenação e planejamento pastoral, Pe. Marcelino recorreu aos sumos pontífices, desde João XXIII, para discorrer sobre o magistério da Igreja. Ele destacou a visão profética do papa responsável por convocar o Concílio Vaticano II, conhecido como o “Papa bom, que, ao iniciar o Concílio Vaticano II, sublinhou a necessidade de uma ação pastoral coordenada e articulada:
“O Papa João XXIII, na sua Carta ao Episcopado Latino-Americano ‘Ad Dilectos Americae Latinae Populos’ (08/12/1961), não apenas falou de uma coordenação orgânica da atividade pastoral, mas foi além, ordenando um planejamento para a Igreja na América Latina. Ele enfatizou a criação de um plano pastoral que indicasse medidas a serem tomadas tanto a curto quanto a longo prazo, no campo específico da ação pastoral”.
Padre Marcelino também fez referência às grandes diretrizes conciliares, citando a Lumen Gentium do Concílio Vaticano II, que reafirma a dignidade e responsabilidade dos leigos na Igreja: “Os pastores de almas reconheçam e promovam a dignidade e a responsabilidade dos leigos na Igreja” (Lumen Gentium, n. 37). Ele reforçou que o planejamento pastoral deve incluir essa participação ativa dos leigos, tornando-os protagonistas no processo de evangelização.
Continuando sua reflexão, ele lembrou que toda a atividade pastoral da Igreja está orientada para a salvação e a santificação do ser humano: “A ação pastoral tem uma finalidade clara, como está expressa na Sacrossanctum Concilium: a salvação das almas e a santificação das pessoas” (Sacrossanctum Concilium, n. 9). Assim, a pastoral não pode se desenvolver de forma desordenada ou sem direção. É necessário planejar com sabedoria, como advertiu o Papa Paulo VI em seu Discurso aos Bispos da América Latina (24/09/1965): ‘A atividade pastoral não pode processar-se às cegas. O apóstolo não corre no encalço do incerto e não bate no ar. Um sábio planejamento pode oferecer à Igreja um meio eficaz e um incentivo para o trabalho pastoral’”.
Padre Marcelino também mencionou a orientação de São João Paulo II, que alertou sobre a necessidade de uma pastoral atenta às grandes cidades e seus desafios: “São João Paulo II nos lembrou que planejar a ação pastoral é fazer o que Jesus pediu aos seus discípulos: ‘avançar para águas mais profundas’. É reconhecer os desafios modernos e enfrentá-los com criatividade e ousadia.”
Ele ainda citou o Papa Bento XVI, destacando que a ação pastoral precisa ir além de iniciativas individuais: “A Igreja nunca pode eximir-se da prática da caridade como uma atividade organizada dos crentes. Não basta que os cristãos vivam o amor de forma isolada; é necessário que ele se concretize através de uma ação pastoral bem estruturada” (Deus Caritas Est, 2005).
Por fim, Padre Marcelino trouxe à tona a visão do Papa Francisco, que tem reforçado constantemente a necessidade de uma “Igreja em saída”: “A pastoral é a ação da Igreja em sua totalidade, e toda a Igreja, em suas diversas áreas, é chamada a ser instrumento de evangelização. O planejamento pastoral, portanto, é uma ferramenta essencial para garantir que a ação da Igreja seja verdadeiramente eficaz e alcance todos aqueles que precisam ouvir a mensagem do Evangelho.”
OS FUNDAMENTOS DO PLANEJAMENTO PASTORAL
Padre Marcelino aprofundou o conceito de Planejamento Pastoral, afirmando que ele deve se basear em quatro pilares fundamentais: Sagradas Escrituras, Tradição da Igreja, Magistério da Igreja e a Realidade Concreta da Comunidade. “Planejar sem olhar para a realidade local é como navegar sem bússola. Temos que entender onde estamos, para saber para onde ir. Jesus sempre esteve atento às necessidades concretas das pessoas ao seu redor, e nossa pastoral precisa fazer o mesmo”, destacou.
Ele também frisou a importância de valorizar o protagonismo leigo no planejamento pastoral: “Os leigos são parte essencial da missão da Igreja. O Concílio Vaticano II nos lembra que os leigos têm uma dignidade e responsabilidade própria dentro da comunidade. Eles não são meros auxiliares, mas protagonistas na construção do Reino de Deus”.
Ao falar sobre a necessidade de renovação nas estruturas da Igreja, Padre Marcelino lembrou que “não podemos usar ‘odres velhos para vinho novo’, como disse Jesus. Se queremos uma Igreja viva e em constante renovação, precisamos repensar as nossas estruturas, buscando sempre novas formas de evangelizar, que falem à realidade do nosso tempo”.
A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO
Pe. Marcelino apresentou os passos metodológicos necessários para um bom planejamento pastoral. Ele ressaltou sete passos essenciais:
- Onde estamos – Avaliação da caminhada pastoral atual;
- Onde precisamos chegar – Definição de metas e objetivos à luz do Evangelho;
- Urgências pastorais – Identificação das necessidades mais urgentes;
- O que queremos alcançar – Resultados desejados no processo de evangelização;
- Como vamos agir – Estabelecimento de critérios comuns de ação;
- O que vamos fazer – Planejamento das atividades;
- Renovação das estruturas – Revisão das estruturas para suportar as novas ações;
Padre Roberto finalizou com uma citação e lembrou que um planejamento eficaz é fundamental para a missão da Igreja: “A melhor forma de sair da tempestade é eleger um rumo, pois não há vento favorável para quem não sabe aonde chegar.”
PROJETO PASTORAL DIOCESANO E JUBILEU DA ESPERANÇA 2025
Na período da tarde, os participantes foram convidados para uma dinâmica interativa que marcou o início das atividades. Irmã Ivani propôs a “Dinâmica do Tesouro Escondido no Jardim”, onde caixas de bombons simbolizavam três importantes pilares: Missão, Formação e Acolhida. A escolha dessas temáticas não foi aleatória, mas sim um reflexo direto da estrutura do Projeto Pastoral Diocesano.
Em seguida, Padre Marinaldo fez uma retrospectiva da criação do Projeto Pastoral Diocesano, que teve início em 2018 com encontros, partilhas e formações. Ele destacou que desde o início o projeto foi fundamentado nesses três eixos essenciais – missão, formação e acolhida – pilares que nortearam as atividades pastorais e continuam sendo fundamentais para o fortalecimento da comunidade diocesana entre os anos de 2024 a 2027.
Logo após, Padre Marinaldo introduziu a temática do Jubileu da Esperança. Ele explicou que, de acordo com uma antiga tradição, o Papa proclama um Ano Jubilar a cada 25 anos. “O Jubileu é um tempo de parada necessária, exigida pela nossa necessidade de ritualizar os tempos. Somos seres que esquecem, e, por isso, necessitamos de momentos que nos ajudem a recordar nossa fé e identidade”, afirmou ele.
Ele sublinhou que o Jubileu aponta para a salvação, libertando o ser humano da mecanicidade dos dias e das atividades repetitivas. “O Jubileu permite o reencontro com Deus e com a comunidade, reafirmando nossa identidade como cristãos e nos chamando à plenitude da comunhão com Deus”, refletiu Padre Marinaldo.
Ele também destacou que o Jubileu de 2025 será um Jubileu da Encarnação, celebrando os 2025 anos do nascimento de Jesus Cristo, o Verbo que se fez carne e habitou entre nós. A centralidade do Ano Jubilar, conforme explicou Padre Marinaldo, será sempre Jesus Cristo, o que será simbolizado pela abertura oficial do Jubileu na Festa da Sagrada Família, no dia 29 de dezembro de 2024. “Este é um convite para reaquecer nossos corações e renovar nossa esperança, que tem um nome: Jesus Cristo”, declarou, enfatizando que o Ano Jubilar deve ser vivido como uma oportunidade para fortalecer nossa fé e nossa confiança na vida eterna.
Além disso, Padre Marinaldo ressaltou que a Igreja, durante o Jubileu, tem o desejo ardente de levar o Evangelho de Jesus Cristo a todos os cantos, como um anúncio de esperança. Ele também reforçou que a esperança cristã não desilude, pois está fundamentada na certeza de que nada poderá nos separar do amor de Deus. O Jubileu, portanto, deve ser vivido como um tempo extraordinário de graça, onde se experimenta profundamente o amor e a misericórdia de Deus, com a oportunidade da plena remissão dos pecados.
O sacerdote sublinhou ainda a importância da peregrinação como um dos símbolos centrais do Ano Jubilar. “A peregrinação é o gesto de quem está em busca do sentido da vida. Ela favorece a redescoberta do valor do silêncio, do esforço e da simplicidade”, afirmou ele, enfatizando que essa prática milenar oferece uma oportunidade de renovação espiritual.
Padre Marinaldo proferiu uma breve explicação sobre os ritos e eventos que marcarão a abertura do Jubileu. A Porta Santa da Basílica de São Pedro, no Vaticano, será aberta pelo Papa Francisco no dia 24 de dezembro do corrente ano de 2024, iniciando-se assim o Jubileu Ordinário. No domingo seguinte, 29 de dezembro de 2024, o Santo Padre abrirá a Porta Santa de sua catedral em São João de Latrão. No mesmo dia, todas as catedrais e concatedrais, os Bispos diocesanos celebrarão a Santa Missa como abertura solene do Ano Jubilar, segundo o ritual preparado para a ocasião. (Em breve a programação detalhada será divulgada).
Pe. Marinaldo divulgou que a preparação de materiais como cartazes, adesivos e camisetas, ajudarão a divulgar e animar a vivência desse momento tão especial na vida da Igreja. E, com essa apresentação, Padre Marinaldo não apenas preparou os participantes para o Jubileu, mas também os chamou a refletir sobre a esperança que a fé em Jesus Cristo nos oferece, especialmente em tempos desafiadores.
Frei Augusto Luiz Gabriel