Este 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil, foi marcado pela retomada do GRITO DOS EXCLUÍDOS na Diocese de Colatina. Cerca de 120 pessoas saíram do centro de Colatina rumo à comunidade Maria Ortiz, que fica no distrito de Baunilha, e lá constataram uma realidade desafiadora.
A pequena vila de pescadores, que fica a 23 quilômetros do centro, aguardava ansiosa a chegada do grupo e, durante o ato, expuseram sua situação de completo abandono. O local fica às margens do Rio Doce e da linha férrea. Após o rompimento da barragem com rejeitos de minério, em Mariana (MG), os ribeirinhos e pescadores locais tiveram sua principal fonte de subsistência interrompida, gerando graves problemas sociais e emocionais que persistem até hoje, quase nove anos depois desse crime ambiental.
“Fizemos o movimento inverso: saímos do centro em direção à periferia, à minoria para perceber a realidade de um povo esquecido e invisível aos olhos da sociedade. Contemplamos a situação com nossos próprios olhos e deixamos que aquela comunidade ‘gritasse’ as suas dores e angústias”, relatou o coordenador diocesano da Ação Evangelizadora, padre Marinaldo Serafim.
BISPO INDIGNADO
O bispo diocesano de Colatina, dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, ficou indignado com o que encontrou em Maria Ortiz: uma comunidade fragilizada e que teve sua identidade religiosa comprometida por não poder acessar os templos locais.
“As capelas foram interditadas. Precisamos agir rápido para melhorar a realidade desse povo sofrido”, disse dom Lauro.
TEMPLOS INTERDITADOS
Segundo Genivaldo Lievore, membro da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Colatina, há duas igrejinhas na comunidade. Uma delas é histórica, tendo sido construída em 1916 e dedicada a Nossa Senhora da Cabeça, cujos devotos a ela recorrem para a cura de doenças da cabeça, como tumores e depressão.
Genivaldo explicou que o acesso a essa capela foi isolado em 2006 por uma muralha de blocos de granito, toras de madeira e a linha do trem, em decorrência da abertura do Porto Seco de Colatina. Trata-se da única igreja capixaba dedicada a Nossa Senhora da Cabeça e que padece pelo abandono em meio ao mato e à intensa atividade empresarial de transporte de cargas. Com isso, um imóvel localizado às margens do Rio Doce foi adaptado, em 2008, para que pudesse ser usado como templo. Mas a reforma realizada nesse imóvel comprometeu a estrutura da construção e por isso foi interditado pela Defesa Civil, há mais de dez anos.
AÇÕES IMEDIATAS
Diante dessa situação, os moradores manifestaram abertamente sua indignação ao bispo de Colatina que, junto à Comissão Justiça de Paz, tomou duas decisões que serão aplicadas o quanto antes: solicitar uma análise de engenharia estrutural do templo novo, seguida da obra necessária para sua recuperação; e buscar o diálogo com as empresas e os proprietários do entorno para dar condições de acesso à capela histórica.
“Nesse momento, não devemos apontar culpados, mas procurar as melhores e mais rápidas soluções para esse caso”, informou Genivaldo.
CELEBRAÇÃO ECUMÊNICA
Sem acesso aos templos, o grupo de participantes do Grito dos Excluídos, entre idosos, crianças, jovens, religiosas, religiosos, padres, pastores e lideranças civis e de movimentos sociais, participaram de uma celebração ecumênica ao ar livre. Além de membros da comunidade, também tomaram a palavra o bispo diocesano, dom Lauro Sérgio, e os pastores das Igrejas Presbiteriana e Luterana presentes.
“Todas as falas apontaram para a mesma direção e expressaram a mesma angústia e indignação”, observou padre Marinaldo.
Por outro lado, a comunidade ficou satisfeita com a presença de tantas lideranças e pessoas de boa vontade, o que reavivou a esperança de que a vida pode melhorar na região.
“Vamos lutar e acompanhar de perto essa situação, envolvendo não apenas a Diocese de Colatina, como também as nossas Igrejas irmãs e todos os órgãos competentes para mudarmos esse quadro”, enfatizou padre Marinaldo.

















