Residindo em Roma há um ano, o padre Marciel Agnezi Serafim participou, na semana passada (8 a 10/9), do 3º Congresso Internacional de Catequese, realizado no Vaticano e que contou com a presença do Santo Padre, o Papa Francisco.
Com o tema “O catequista, testemunha da vida nova em Cristo”, o evento reuniu cerca de 1400 pessoas vindas de diversas partes do mundo. Padre Marciel, que faz mestrado em Catequese no Instituto de Catequética da Pontifícia Universidade Salesiana de Roma, integrou a comitiva brasileira formada por 36 pessoas de diversas regiões.
No texto a seguir, padre Marciel conta como foi a experiência de viver esse momento tão importante para a Igreja no mundo:
O primeiro dia (8/9) foi marcado por três conferências. A primeira foi introdutória, ministrada pelo pró-prefeito para o Dicastério para a Evangelização. Ele fez memória do período da pandemia que nos forçou a repensar nossa missão e disposição em servir e, ao mesmo tempo, nos alertou para a necessidade de nos abrirmos à criatividade que advém do Espírito Santo. Ele ressaltou o ano de 2020 no qual foi lançado o Diretório para a Catequese e 2021 que marcou o motu próprio do Papa Francisco Antiquum ministerium que institui o ministério dos catequistas.
O pró-prefeito, ao fazer a introdução do congresso, apresentou quatro perspectivas relevantes para a evangelização no contexto do nosso amadurecimento de fé. O primeiro é o conteúdo da fé que é Jesus Cristo. Nele encontramos a novidade evangélica das bem-aventuranças que, para o cristianismo, é experiência salvífica. O segundo é viver a vida nova em Cristo. Significa viver na condição de filhos e reconhecer que toda a lei foi superada pela graça de Deus que nos faz seus filhos. Assim, é livre quem vive como filho e não sob o reducionismo da lei. A terceira: não podemos reduzir a vida cristã aos dez mandamentos. Isso é interessante: ao lugar da lei, Paulo põe a graça. Esta, por vez, nos faz filhos e vida bem-aventurada. A quarta: somos chamados a caminhar segundo o Espírito de Deus. A única lei a ser escutada é a do amor que nos coloca em atitude de discernimento. “Ama e faz aquilo que queres”, diz Santo Agostinho. “A vida sem amor não tem sentido”, diz São Tomás de Aquino. É livre quem ama, é livre quem vive como filho e tem Jesus como única lei.
A segunda conferência refletiu o tema “Chamados à liberdade” e foi ministrada pelo professor e bispo Antônio Pitta, professor da Pontifícia Universidade Lateranense. Ele fez uma exegese bíblica da carta de São Paulo aos Gálatas, capítulo 5. O conferencista apresentou aquilo que se denomina essência do cristianismo, ou seja, viver no primado do Espírito e da liberdade. Encerrou apresentando que a fé é operante quando vivemos no amor. Sem o amor, condição para a vida nova em Cristo, não vivemos como ressuscitados.
A terceira conferência, desenvolvida pelo Cardeal Mario Grech, secretário geral para o Sínodo dos Bispos, tratou “da perspectiva sinodal para uma catequese evangelizadora”. O cardeal ecoa o que o Papa Francisco tem insistido em suas declarações: “a sinodalidade é o que o Senhor nos pede” e uma necessidade para a Igreja no início do terceiro milênio. Hoje, mais do que ocupar espaços, a Igreja tem de abrir processos. A sinodalidade é a abertura de um processo e, por isso, uma catequese em ato, pois é pura experiência.
O segundo dia de congresso iniciou com a Santa Missa no Altar da Cátedra da Basílica de São Pedro. A primeira conferência foi sobre “A liberdade pessoal e a consciência eclesial”, ministrada pelo professor Dr. Robert Cheaib, da Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Lyon, na França. À luz da filosofia, neurociência, psicologia e teologia, ele trabalhou o conceito de liberdade e suas implicações para a vida eclesial. “Somos livres quanto mais somos capazes de viver com e na pluralidade da comunidade”. No mesmo dia, foi trabalhado, pelo professor padre Mário Marcelo Coelho scj, o tema das bem-aventuranças e dos mandamentos como auxílio para a formação da consciência. Houve ainda trabalhos por grupos linguísticos, que aconteceram na Pontifícia Universidade Urbaniana.
No último dia, a professora Dra. Donna Lynn Orsutto, da Pontifícia Universidade Gregoriana, compartilhou sua experiência no centro ecumênico de espiritualidade. Os trabalhos foram encerrados com a presença do Papa Francisco que deixou sua exortação de tomar consciência da necessidade de uma “catequese que deixe uma marca positiva no coração do outro”. Ele lembrou de sua catequista, sua dedicação e sensibilidade. E destacou também a necessidade de um olhar todo especial aos adultos (destinatários primeiros da catequese) e aos jovens.
De Roma, texto escrito pelo Padre Marciel Agnezi Serafim