Igreja Matriz de São João Batista, Aracruz
2 de fevereiro de 2013 – Festa da Apresentação de Jesus
Estimado Marcelo,
Sinto-me agraciado por Deus e invadido por uma serena alegria ao presidir hoje esta Eucaristia dentro da qual, tão somente pela graça de Deus e apesar de minhas limitações, imporei minhas mãos sobre você, ungindo-o como presbítero a serviço desta Igreja particular que presido.
Dois de fevereiro: festa da Apresentação de Jesus no Templo. Não haveria data melhor para uma ordenação. Recordemos: um casal simples e pobre (Maria e José) dirige-se ao Templo para oferecer seu misterioso filho primogênito, Jesus, a Deus como manda a Lei: “Todo primogênito varão será consagrado ao Senhor”(Lc 2,22ss). De material nada tem a entregar a não ser um casal de rolas. Coisa de pobres.
Algo semelhante acontece aqui hoje. Sua família, tecida de simplicidade e lutas, o entrega no templo de Deus que é sua Igreja, a serviço do mundo. De nossa parte deixamos ressoar em nossos corações a alegria do velho Simeão e da profetisa Ana que, vendo o menino, (hoje vemos a você Marcelo) exultaram com louvores e gratidão pelo Deus que não esquece seu povo e faz surgir pessoas que sejam luz para as nações e anunciadores da libertação.(cf.Lc 2,28-33)
De sua parte, Marcelo, tenha consciência da profecia que o próprio Simeão dirigiu a Maria e que, no fundo, é dirigida a você e a todos nós que recebemos a unção presbiteral: “Este menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição – uma espada traspassará a tua alma! e assim serão revelados os pensamentos de muitos corações.” (cf Lc 2,34ss).
É a realidade de quem é chamado a ser cristão e, ainda mais, dos que lhes é confiada a missão presbiteral. Ser no mundo sinal de contradição. Muito mais hoje quando insidiosamente o jeito de ser do mundo invade nossos corações e nossas casas.
O caminho certo é confirmado pelo profeta Malaquias ao referir-se ao Messias e, nEle, a você e a todos nós: “Ele é como o fogo da forja e como a barrela dos lavadeiros; e estará a postos, como para fazer derreter e purificar a prata: assim ele purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata, e eles poderão assim fazer oferendas justas ao Senhor” ( cf.Ml 3,2-3). É o modo de ser apresentado por Cristo Jesus em sua vida, paixão, morte e ressurreição. Deve ser o nosso jeito de ser. Como nos diz o Apóstolo Paulo: “… os judeus pedem sinais, os gregos buscam sabedoria. Nós, porém, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. (…) Mas o que para o mundo é loucura, Deus o escolheu para envergonhar os sábios, e o que para o mundo é fraqueza, Deus o escolheu para envergonhar o que é forte. Deus escolheu o que no mundo não tem nome e prestígio, aquilo que é nada, para assim mostrar a nulidade dos que são alguma coisa.” (1Cor 1,22ss)
Caro Marcelo, deixe-se revestir por esta loucura. Não tenha medo. Conserve a humildade. Como João Batista, o padroeiro desta bela igreja matriz, realize no dia a dia de sua vida presbiteral o programa do precursor: “É preciso que Ele cresça e eu diminua (Jo 3,30). Ou com Paulo: “Não sou mais eu que vivo é Cristo que vive em mim” (cf Gl 2,28).
Sua ordenação acontece em pleno Ano da Fé, no contexto da Jornada Mundial da Juventude e como o espocar vivo de uma flor anunciando a realização de nosso Projeto Diocesano de Evangelização assumido na última Assembleia Diocesana. Com você, queremos revigorar nossa fé e paixão por Cristo Jesus (eixo da mística), anunciar com entusiasmo o projeto de Jesus, envolvendo e valorizando especialmente os jovens (Missão), procurar e formar novas lideranças comprometidas com a realização do Reinado de Deus no mundo (formação de leigos adultos na fé) e deixar-nos empapar pela riqueza espiritual e transformadora dos mais pobres (opção preferencial pelos pobres e vida).
Hoje celebro meus 16 anos de episcopado. Você é o melhor presente que Deus poderia me oferecer no dia de hoje para mim e para a nossa Igreja particular. Sinto-me ainda como o cego à beira da estrada a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tenha pena de mim! Que queres que eu te faça? Senhor, que eu veja!” (Domine ut videam) (Lc 18,41). Hoje: o dia da luz. Preciso muito da luz de Deus! Coloque-me bem dentro do coração de Jesus em sua primeira celebração eucarística que celebrará daqui a pouco, juntamente comigo, seus irmãos no sacerdócio e todo o povo de Deus.
Marcelo, não renegue sua raça. Conserve sua espontânea alegria e simplicidade. Vibre por sua Igreja. Ame a Jesus Cristo. Maria, nossa Mãe e Senhora da Saúde, o conserve sempre bom e forte na fé. Realizem-se em você as últimas palavras proclamadas no Evangelho de hoje: “E o menino (que bom chamá-lo de menino!) crescia e tornava-se forte, cheio de sabedora: e a graça de Deus estava com ele. “(Lc 2.40)
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Dom Décio Sossai Zandonade