“Um aluno, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo” Foi a afirmação da jovem Malaia Yousafzai, premio Nobel da paz. Uma jovem corajosa que desafiou os talibãs pelo direito de estudar. Este testemunho ressoa hoje também nesta catedral como uma iluminação, uma gratidão, e um compromisso para quantos celebramos o dia do Professor
Na evolução do universo e da humanidade há momentos críticos onde tudo parece desmoronar. Nesta hora surgem no horizonte estrelas de esperança. Na história sagrada, Abraão, o misterioso alicerce da fé, o jovem Moisés o condutor de um povo para a liberdade, atravessando a dureza do deserto, o jovem Davi,protótipo de uma forma de governar embasado no temor a Deus, os profetas: mensageiros incansáveis e vigorosos,de um mundo novo, mesmo no sofrimento e na resistência de quem,por primeiro, devia-lhes abrir o coração e os ouvidos… e , na plenitude dos tempos a jovem Maria que, intrigada pela mensagem inovadora do anjo Gabriel, responde determinada: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra”. Tornou-se a educadora do próprio Filho de Deus, o Verbo Eterno, que tomou jeito humano em seu seio virginal. Ela, guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração”
E o mundo, foi percebendo, entre luzes e sombras, que algo inusitado havia acontecido: A loucura de amor do próprio Deus que se fez um de nós, deu sua vida para nos libertar e agora caminha conosco por seu Espírito renovador. Eis que faço novas todas as coisas. Eu sou o caminho a verdade e a vida. Ele é o primeiro e o único mestre. Não chameis a ninguém de mestre, pois eu sou o único Mestre e Senhor”.É associando-nos a Ele que também nós incorporamos em nossas vidas a missão de educadores, professores. Somente Ele somos verdadeiramente professores. Somente deixando que seu Espírito molde em nós o seu jeito de ser e agir que poderemos fazer novas todas as coisas. Não é,porém, uma tarefa fácil. O caminho de Jesus passa pelo amor crucificado. Entrega, doação, capacidade de espera, morrer para dar vida. Maria, nossa Mãe e Educadora, facilitará esta inserção. Fazei tudo o que Ele vos disser. E as talhas velhas se preencherão do vinho novo.
Caríssimos(as) professores e professoras. Neste dia em que fazemos memória de uma grande educadora, Tereza de Ávila, desejaria em nome da Igreja ou das Igrejas, dizer-lhes que somos muito gratos pelo trabalho que realizam tendo como centro de suas vidas educandos e educandas nem sempre permeáveis ao cinzel burilador de suas vidas e que já entram nas escolas, forjados por uma cultura dominante que os faz semi-deuses, egocêntricos e alucinados por tecnologias que,normalmente, não fortalecem atitudes solidárias e sim solitárias e independentes. Não desanimem. Hoje, nesta mudança de época, a presença de vocês é absolutamente imprescindível. Mesmo que a sociedade não os valorize como merecem continuem dando vida para que todos tenham vida e a tenham em abundância.
A cultura que nos envolve – meios de comunicação, fantasias, modelos, -insistem em destruir a família, base inegociável de uma formação completa.O que os grandes meios de comunicação através de novelas, informações, busca de sensacionalismo apresentam continuamente e tentam a todo custo cunhar como normalidade, é um amor feito de estética, beleza física, busca de satisfação imediata e não o amor doação, esquecimento de si, paciente, fiel. Esta insânia de demolir a família como Deus a quis e a apresenta através do seu Filho Jesus, tem e terá consequências desastrosas . É nesta hora em que a escola e os professores nas escolas assumem uma responsabilidade ainda maior. È no ambiente escolar onde os jovens hoje passam o maior tempo contínuo de suas vidas. Ali podem crescer no respeito a outro diferente, ali podem crescer em uma socialização madura, ali podem entrar em contato diário com testemunhas diferenciadas porque alimentadas na fé, na sabedoria de Deus. Estamos, queridos professores e professoras, inseridos em uma Igreja que traz em seu seio a responsabilidade de anunciar a alegria do encontro com Cristo Jesus e faze-lo presente na história de hoje, que de uma maneira ou outro, não quer saber de Igreja e muito menos do jeito de ser de Cristo Jesus. Estou sendo pessimista? Creio que realista. É o próprio Papa Francisco que nos diz na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: “A cultura mediática e alguns ambientes intelectuais transmitem, às vezes, uma acentuada desconfiança quanto loa mensagem da Igreja, e certo desencanto. Em consequência disso, embora rezando, muitos agentes pastorais ( digo professores e professoras) desenvolvem uma espécie de complexo de inferioridade que os leva relativizar ou esconder a sua identidade cristã e as suas convicções Gera-se então um círculo vicioso, porque assim não se sentem felizes com que são nem com o que fazem, não se sentem identificados com a missão evangelizadora, e isto debilita a entrega. Acabam assim por sufocar a alegria da missão numa espécie de obsessão por serem como todos os outros e terem o que possuem os demais. Deste modo, a tarefa da evangelização torna-se forçada e se lhe dedica pouco esforço e um tempo limitado. ; Nos agentes pastorais(professores), independentemente do estilo espiritual ou da linha de pensamento que possam ter, desenvolve-se um relativismo ainda mais perigoso que o doutrinal. Tem a ver com as opções mais profundas e sinceras que determinam uma forma de vida concreta. Este relativismo prático é agir como se Deus não existisse, decidir como se os pobres não existissem, sonhar como se os outros não existissem. Trabalhar como se aqueles que não receberam o anúncio não existissem. É impressionante como até aqueles que aparentemente dispõem de sólidas convicções doutrinais e espirituais acabam, muitas vezes, por cair em um estilo de vida que os leva a se agarrarem a seguranças econômicas ou a espaços de poder e de glória humana que se buscam por qualquer meio, em vez de dar a vida pelos outros na missão. Não nos deixemos roubar o entusiasmo missionário.”(EG 799-80)
Colatina, é um território onde o embasamento da fé ainda prevalece sobre aquilo que o Papa chama de certo mudanismo, ou seja, uma vida desvinculada de Cristo Jesus. É uma responsabilidade muito grande que temos por sermos portadores para o Espírito Santo e para o Brasil de um modelo de convivência humana onde prevaleçam os valores da justiça, da fraternidade, da família segundo Deus,. É a tarefa de professores e professoras com dinamismo missionário cristão. Professores e professoras que centram sua missão no ser humano, especialmente o mais empobrecido. Aqui talvez os mais pobres podem ser os que já tem tudo , menos Deus. Com Santa Tereza de Ávila, vamos reafirmar o compromisso de revolucionar nossa maneira de ser. Só Deus basta, repetia ela. A política tem um desígnio importante nesta revolução, mas, com certeza os fautores principais desta transformação são vocês professores e professoras. Homens e mulheres competentes profissionalmente mas sobretudo, homens e mulheres de fé. A fé significa acreditar nEle, Cristo Jesus, acreditar que nos ama verdadeiramente, que está vivo, que é capaz de intervir misteriosamente, que não nos abandona, que tira bem do mal com o seu poder e sua criatividade infinita. Significa acreditar que Ele caminha vitorioso na história. Não fiquemos à margem desta macha da esperança viva.
Muito obrigado por vocês existirem e, mesmo em meio a sofrimentos ou desilusões e incompreensões, persistirem na tarefa generosas de formatar em cada ser humano a imagem e semelhança de Deus,presente em Cristo Jesus..
“Um aluno, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo”. Vocês estão mudando o mundo. Não desanimem. Maria, nossa Mãe e Senhora da Saúde, os proteja e guarde.
Dom Décio Sossai Zandonade
Bispo Emérito
Diocese de Colatina