No finalzinho do ano passado, cerca de 74,5 milhões de jovens entre 15 e 24 anos de idade estava desempregado, quase um milhão a mais do que no ano anterior. Entre eles, as taxas de desemprego são, em média, três vezes superiores às dos adultos, relação que atingiu um máximo histórico.
Um fator especialmente preocupante é o forte aumento da proporção de jovens que não trabalham, não estudam e não estão recebendo qualquer formação profissional, a geração de jovens “nem-nem”, que não trabalham nem estudam. O termo já virou comum entre economistas e estudiosos do mercado de trabalho brasileiro.
Mas um estudo recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostrou que o fenômeno não é exclusividade do Brasil.
A organização levantou dados em todo o mundo e concluiu que, de 2007 a 2012 a parcela de jovens “nem-nem” (de 15 a 29 anos) cresceu em 30 de 40 países que são acompanhados. Os níveis são elevados no Oriente Médio e Norte da África, assim como em alguns países da América Latina, Caribe e Europa Meridional.
Os últimos dados do IBGE mostram que no Brasil o Nordeste é a região na qual se concentra a maior parte da geração “nem-nem”: 23,9%. O Norte, por sua vez: 21,9%. As regiões Sudeste 18,1%, Centro-oeste 17,4% e Sul 15%.
A grande maioria desses jovens é proveniente de famílias com baixa escolaridade e com poucas oportunidades de melhora social. Os jovens abandonaram os estudos e o emprego por muitos fatores: falta de estímulos pessoais e familiares, falta de um projeto de vida e a reprovação escolar. No caso de meninas, a gravidez precoce também é um fator de abandono escolar. Outra parte desses jovens é sustentada por pais, avós, cônjuges. Cada vez mais adiam a partida da casa.
Como resultado, esses jovens, por sua baixa qualificação, acabam não se colocando bem no mercado de trabalho e, com o passar dos anos, têm mais dificuldade para permanecer. Esse quadro não é bom, não traz boas perspectivas para o Brasil e tampouco para o mundo. Essa geração de jovens certamente vai fazer falta no horizonte de crescimento sustentável dos países, olhando essa problemática unicamente pelo lado econômico. Além do que, aqueles que levam a vida a sério, que muitas vezes tem em suas casas alguns desses “nem-nem”, serão cobrados por fazer muito mais com menos, que é a essência da produtividade, do desenvolvimento e da própria sobrevivência.
Como a Igreja já vem alertando há décadas, os jovens precisam ser estimulados e orientados. Como não encontram estímulo em casa e se deparam com uma desigualdade social, não visualizam o caminho que devem seguir.
Torna-se necessário cada vez mais um diagnóstico mais profundo das causas do desemprego jovem. Uma das recomendações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é para que o Brasil crie condições mais favoráveis para os empregadores contratarem os mais novos, seja criando um salário mínimo para jovens, ou subsidiando sua contratação ou, ainda, por meio de menores taxas de contribuição para a previdência pública.
Pelo lado da oferta, verificamos que emprego tem, mas muitos jovens não têm as qualificações necessárias. Pelo lado da demanda, é preciso reduzir os custos de contratação e qualificá-los.
Sem dúvida, dar aos jovens um bom começo na sua vida profissional e incentivar os empregadores a investir na juventude irá equipar a nova geração com as ferramentas que eles precisam e permitir que façam a experiência da dignidade adquirida pelo trabalho.
Para um cristão é urgente um olhar de inclusão, amplo e fraterno sobre o tema, recordando que a atividade profissional, uma vez assumida por Jesus apresenta-se como um caminho de santidade e realização, querido por Deus para todas as pessoas, inclusive os jovens.
Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias.
Administrador Apostólico
Diocese de Colatina