Mais de 70 homens e mulheres do campo marcaram presença no 1º Fórum Camponês, realizado no último dia 22 de agosto, em Itarana. O evento foi uma iniciativa da Área Pastoral Linha Ita, que é formada pelas paróquias dos municípios de Baixo Guandu, Itarana, Itaguaçu, Laranja da Terra, Santa Teresa e São Roque do Canaã.
Na ocasião, o grupo discutiu a situação do campo e a necessidade da implantação de políticas públicas mais eficientes para garantir qualidade de vida e de trabalho aos camponeses. “O camponês passou a ser visto apenas como instrumento para abastecer a mesa do brasileiro urbano. Assim sendo, perdem-se suas memórias, raízes, conceitos e objetivos. Grande parcela de jovens, ao mesmo tempo, parte para outras áreas, sem a vontade de voltar para o campo, sem vontade de ser ‘camponês’”, afirma uma carta aberta produzida pelos participantes do fórum ao final do evento.
A seguir, confira a íntegra desse documento.
CARTA ABERTA À SOCIEDADE E ÀS AUTORIDADES PÚBLICAS
Nós, camponeses (as), lideranças comunitárias, sociais e religiosas, estivemos reunidos no 1º Fórum Camponês, promovido pela Área Pastoral Linha Ita, abrangendo os municípios de Baixo Guandu, Itarana, Itaguaçu, Laranja da Terra, Santa Teresa, São Roque do Canaã e Afonso Cláudio (município convidado), realizado no Salão Paroquial da Igreja Católica do município de Itarana (ES), no dia 22 de agosto de 2015, das 8 às 16 horas, contando com 71 participantes. Na ocasião, debatemos sobre a necessidade de resgatar a identidade do camponês e sobre o seu êxodo para as periferias das grandes cidades, principalmente a juventude.
O camponês passou a ser visto apenas como instrumento para abastecer a mesa do brasileiro urbano. Assim sendo, perdem-se suas memórias, raízes, conceitos e objetivos. Grande parcela de jovens, ao mesmo tempo, parte para outras áreas, sem a vontade de voltar para o campo, sem vontade de ser “camponês”.
Outro tema discutido no fórum foi o desrespeito e o preconceito criados pela mídia em relação às raízes camponesas. A agricultura camponesa brasileira é responsável por 70% dos alimentos que vão para a mesa dos brasileiros, gera 85% dos empregos no campo, ficando com apenas 15% do crédito agropecuário oficial do Brasil e tendo apenas 23% do território nacional agricultável (IBGE 2006).
Apesar de toda a importância do setor, há uma precariedade de políticas públicas estruturantes, sendo elas:
– educação do campo
– saúde
– lazer
– preservação ambiental
– estradas
– infraestrutura rural
– assistência técnica
– agroindustrialização
A falta de investimento em cada um desses pontos tem colaborado, nas últimas décadas, para uma forte evasão de camponeses para as periferias urbanas, agravando o quadro social, econômico e cultural das comunidades.
Diante do exposto, cobramos das autoridades competentes que representam o poder público, executivo, legislativo e judiciário a implementação de políticas estruturantes que garantam soberania alimentar, preservação ambiental e valorização do campesinato. Vale, inclusive, registrar que todas as autoridades acima citadas foram convidadas formalmente para participar do nosso 1º Fórum Camponês, mas nenhuma compareceu.
Convocamos toda a sociedade civil organizada (igrejas, associações, sindicatos, movimentos, comitês, fóruns, ONGs, estudantes, profissionais em geral, universidades) a seguirem conosco em prol deste objetivo que é de interesse de toda sociedade: resgatar a cultura camponesa, a produção de alimentos saudáveis e a preservação ambiental.
Desde já, contamos com o empenho das autoridades competentes e o envolvimento da sociedade diante do exposto.
Atenciosamente
Participantes do 1º Fórum Camponês promovido pela Área Pastoral Linha Ita