O mundo clama e anseia por paz. Centenas e milhares de pessoas enchem as ruas em manifestações pela paz. Sensível a esse clamor popular e fruto de uma profunda reflexão sobre os motivos da violência, a Diocese de Colatina lançou no primeiro domingo do Advento, 30 de novembro, o Ano da Paz.
A Igreja Católica de mãos dadas com todas as pessoas de boa vontade deseja refletir sobre o porquê do aumento da violência em nosso país e encontrar ações na busca de novas relações que conduzam a uma convivência justa e fraterna, isto é, de paz.
Vivemos no meio da violência, vista e experimentada na morte de pessoas por crimes banais, na justiça com as próprias mãos, na insistência da diminuição da maioridade penal, nas manifestações e destruição do patrimônio público e particular, na falta de diálogo e convivência respeitosa. É nítido que as relações fundamentais foram rompidas.
Vivemos no meio da violência, no desrespeito as leis de trânsito que matam e mutilam pessoas, na violência contra a mulher, os jovens, na violência do sistema financeiro. Além disso, vemos uma violência causada pela corrupção que atinge os pobres, doentes, marginalizados. A violência nos assusta! Pois a lista é grande.
Recordamos ainda a situação do tráfico humano no país, abordado pela Campanha da Fraternidade deste ano, onde a Organização Internacional do Trabalho (OIT) atenta para o aumento de vítimas do tráfico humano que somam 21 milhões de pessoas, crime esse que se expressa no trabalho forçado, no tráfico para a exploração sexual, no tráfico de órgãos, e adoção ilegal. É também a terceira atividade criminosa mais rentável do mundo, atrás apenas do tráfico de armas e do tráfico de drogas e movimentando mais de 32 bilhões de dólares anual. Os dados são alarmantes; de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), no Brasil, o tráfico de pessoas faz cerca de 2,5 milhões de vítimas por ano, incluindo homens, mulheres e crianças, mas principalmente pessoas vulneráveis e carentes, psicologicamente e de recursos.
A violência não acontece por acaso. Ela é uma consequência. Ela é uma reação à falta de justiça, à desintegração da família e das instituições, à educação sem valores e princípios fundamentais, ao individualismo crescente, a adoração do dinheiro, a valorização distorcida do ter, do poder. Existe um vazio de valores vitais, no âmbito da família e da sociedade, mas principalmente no coração das pessoas. Esse sentimento desperta para a violência e destrói a dignidade da vida e a liberdade do ser humano. Mas, a violência não se combate com a violência. A violência é vencida com atitudes de paz, como entrevemos em Jesus na Cruz. O Papa Bento XVI nos recorda que a Cruz de Cristo é, para nós, o sinal daquele Deus que, no lugar da violência, coloca o sofrer com o outro e principalmente o amor ao outro. O Papa Francisco também tem sido um pregador assíduo de uma paz possível entre as pessoas. Uma paz para todos. A fé desperta para uma acolhida que supera a força dos violentos, transmitindo a graça e o poder do Reino de Deus! As pessoas de boa vontade, sejam quais forem as suas motivações, também proclamam e incentivam a construção deste caminho da paz que gera a fraternidade.
É preciso desarmar os corações para armar uma sociedade melhor.
Vamos aproveitar os diversos meios que temos à disposição para promover a paz. Poderíamos começar com o mais simples e mais próximo: na nossa família, na nossa comunidade, no nosso ambiente de trabalho. A paz se constrói com gestos, palavras e atitudes concretas. Há necessidade que a fraternidade seja descoberta, experimentada, anunciada e testemunhada. A paz concreta para nós é fruto de uma espiritualidade, de uma comunhão com Deus, de um desejo de vivermos profundamente a vontade de Jesus o Príncipe da Paz: ¨Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei¨, um amor doação, entrega e perdão.
Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias
Administrador Apostólico Diocese de Colatina